ESPIRITUALIDADE E SAÚDE

A relação entre espiritualidade e saúde é um campo de estudo em plena expansão, reconhecido por sua importância na compreensão do ser humano de forma integral. No Brasil, essa conexão é particularmente relevante, dada a profunda religiosidade e diversidade de crenças da população. O Espiritismo sistematizado por Allan Kardec surge nesse contexto como uma das doutrinas que mais influenciam a percepção da saúde, tanto por seus adeptos quanto por pesquisadores.

No Brasil, a espiritualidade e a religiosidade estão intrinsecamente ligadas, moldando a forma como a população lida com a doença, a cura e o sofrimento.

Embora não haja consenso no meio acadêmico, vamos tentar diferenciar alguns conceitos:

  • Religião: Um sistema organizado de crenças, rituais e moralidade que conecta as pessoas a uma comunidade e a uma divindade ou poder superior;
  • Religiosidade: A prática e a vivência de uma religião formal, incluindo a frequência a templos, a oração e o engajamento com a comunidade religiosa;
  • Espiritualidade: Um conceito mais amplo e individual, relacionado à busca por significado e propósito na vida, a uma conexão com algo maior e à transcendência, independentemente de uma religião organizada.

A Doutrina Espírita, sistematizada no século XIX por Allan Kardec, oferece uma visão de saúde e doença que vai além do materialismo. Para o Espiritismo, o ser humano é composto de corpo físico, espírito e perispírito (o envoltório semimaterial que liga ambos). A doença não é vista apenas como um fenômeno biológico, mas como um reflexo de desequilíbrios do espírito, que podem apresentar principais causas de natureza espiritual, por exemplo:

A Lei de Causa e Efeito – nos traz que sofrimentos ou doenças podem ser resgates de ações prejudiciais cometidas em vidas passadas; 

Processos Obsessivos – Podem decorrer de ações de espíritos desencarnados que, por vingança ou maldade, influenciam negativamente o indivíduo, podendo causar desequilíbrios físicos e mentais;

Desequilíbrios Morais – Vícios, paixões desordenadas e sentimentos negativos (como ódio e orgulho) podem gerar perturbações e se somatizarem no corpo físico.

O tratamento, portanto, não se limita ao remédio convencional e este deve haver. O Espiritismo por sua vez propõe como terapêutica complementar, o “passe magnético”, a magnetização da água (fluidoterapia) são elementos paliativos, no entanto é necessário haver principalmente, a reforma séria do caráter e dos hábitos, um processo de reeducação moral e espiritual visto como a verdadeira cura.

Pesquisadores brasileiros têm se destacado na investigação dessa relação, buscando evidências científicas dos benefícios da religiosidade e da espiritualidade na saúde.

Alexander Moreira Almeida: Médico psiquiatra e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), é uma das maiores referências no tema. Em suas pesquisas, ele e sua equipe demonstraram consistentemente a associação entre religiosidade (incluindo o Espiritismo) e melhores desfechos em saúde mental, como menor risco de depressão, ansiedade e suicídio. Ele argumenta que a espiritualidade atua como um fator de resiliência e apoio social, e defende a inclusão da história espiritual do paciente na prática clínica. 

Giancarlo Lucchetti: Médico e pesquisador, tem se dedicado ao estudo da inclusão da espiritualidade na formação de profissionais de saúde. Seus trabalhos, muitos em parceria com Moreira Almeida, mostram que, embora estudantes e médicos brasileiros considerem o tema relevante, a falta de preparo para lidar com ele é uma lacuna na educação médica. Ele ressalta a necessidade de uma abordagem holística e humanizada que considere todas as dimensões do ser humano. 

Harold G. Koenig: Embora seja uma referência internacional (Duke University, EUA), seu trabalho é fundamental para o cenário brasileiro. Pioneiro na área, Koenig publicou inúmeros estudos que correlacionam a prática religiosa com uma melhor saúde física e mental, servindo de inspiração e base metodológica para as pesquisas no Brasil.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), já em documentos recentes, reconhece a dimensão espiritual como um componente essencial para o completo bem-estar. A psiquiatria e a psicologia, tanto no Brasil quanto em outros países, têm incorporado cada vez mais essa perspectiva, buscando uma integração que respeite as crenças dos pacientes sem abrir mão do rigor científico.

O Espiritismo, com sua visão de que a saúde é um reflexo do equilíbrio moral e espiritual, encontra um eco nas evidências científicas que apontam para o poder da fé, do perdão e da comunidade na promoção da saúde. No Brasil a Doutrina do Espíritos fornece um arcabouço sólido para o estudo da interface entre a fé e a ciência, fortalecendo a ideia de que o cuidado à saúde deve ser completo, abrangendo não apenas o corpo físico, mas também a mente e o espírito.


Referências Bibliográficas

Livros:

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB Editora, 2013.
  • KARDEC, Allan. A Gênese: Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. FEB Editora, 2013.
  • KOENIG, Harold G. Medicina, Religião e Saúde: O Poder da Fé. Madras Editora, 2013.
  • ALMEIDA, Alexander Moreira de; L. SANTOS, Flávia; LUCCIA, Marcelo. Apoio Espiritual em Saúde: Manual Prático. Grupo GEN, 2018.

Artigos Científicos:

  • ALMEIDA, A. M., & LUCCETTI, G. (2015). Religiosidade e saúde mental: O que a pesquisa científica tem a dizer? Revista Brasileira de Psiquiatria.
  • LUCCETTI, G. et al. (2012). Espiritualidade na formação de profissionais de saúde: uma revisão sistemática. Revista de Saúde Pública.
  • FEIJÓ DE MELLO, M. et al. (2019). The importance of spirituality and religiosity for physicians in a public hospital in São Paulo, Brazil. Journal of Religion and Health.